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A Colheita do Pêssego

  • Foto do escritor: gabriellaborghesif
    gabriellaborghesif
  • 19 de nov. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 17 de fev.

Imagem mostrando uma mulher jovem sorrindo em frente a um pomar

Hoje vivemos em uma era de imediatismo, onde tudo precisa ser resolvido na hora, ou ao menos parece que deveria ser. Com isso, deixamos de respeitar muitos processos que demandam tempo.


Enquanto estava no meu pomar, após uma caminhada com Belladonna, minha fiel companheira, colhi um pêssego que há tempos se desenvolvia. Todos os dias eu o observava ganhar forma, desde o desabrochar da flor até o dia de hoje.


Essa colheita me fez refletir sobre a importância da paciência e de entender que cada coisa tem seu ciclo. Aprender a esperar o processo de amadurecimento é uma das maiores sabedorias que podemos desenvolver na vida.


Percebo que muitas pessoas da minha idade carregam um senso de imediatismo misturado com maturidade, enquanto os mais jovens parecem desconhecer que o tempo é parte essencial do processo. Para eles, tudo precisa acontecer rapidamente: começar um emprego e já ser diretor, ganhar um ótimo salário e desfrutar de regalias, sem passar pelos estágios iniciais, como tirar cópias ou organizar arquivos.


Essa pressa faz com que desistam facilmente de planos, desperdiçando oportunidades de crescimento e deixando de aprender com as etapas naturais de qualquer jornada.


Se eu tivesse colhido o pêssego antes do momento certo, ele estaria duro e amargo. Mas, ao permitir que ele seguisse seu curso, hoje, ao tocá-lo, ele se soltou do galho, exalando um perfume inebriante. Agora, posso saborear sua doçura e apreciar a suavidade de sua textura, colhendo não apenas o fruto, mas também a lição da espera.


Saber dosar energia, respeitar o tempo e reconhecer a hora certa para desistir ou mudar de rumo é uma maturidade que se adquire ao longo da vida. E não há problema em desistir quando algo não faz mais sentido. Tudo muda: pensamentos, interesses e caminhos. Mas essa decisão requer consciência, reflexão e uma escuta atenta ao que o coração nos indica.


Essa clareza só vem quando nos permitimos parar, respirar e nos conectar conosco. Contudo, na correria do dia a dia, esquecemos de dedicar sequer cinco minutos a essa prática, e o resultado é uma confusão mental que nos deixa sem rumo.


Sem essa pausa, perdemos o momento certo da "colheita" – seja porque esperamos demais e os frutos são levados pelos passarinhos, seja porque nos adiantamos e colhemos algo ainda verde.


Identificar o momento certo pode vir por sinais concretos, como resultados tangíveis, mas também pelo sentir. Quando fechamos os olhos, respiramos profundamente e perguntamos a nós mesmos se é a hora certa, nosso íntimo nos responde. Mas precisamos estar dispostos a ouvir.


Os sinais estão sempre à nossa volta. Não estamos sozinhos nesse processo, mas cabe a nós escolher o caminho e prestar atenção ao que a vida nos revela.


Hoje, esse pêssego representa muito mais do que uma fruta. Ele simboliza o aprendizado de respeitar os ciclos, algo que reflete diretamente em muitas áreas da minha vida – especialmente nos relacionamentos, como o núcleo familiar.


Uma casa com base sólida e alinhada impulsiona todas as outras áreas da vida. Isso não significa uma vida perfeita, como em contos de fadas ou comerciais de margarina. A vida real é cheia de desafios, mas acredito que cada dificuldade traz oportunidades de aprendizado e crescimento.


Diferente de um pêssego, os ciclos nos relacionamentos nem sempre seguem uma ordem linear. Alguns se desenrolam rapidamente, enquanto outros levam anos. Muitas vezes, várias etapas acontecem simultaneamente, criando uma trama complexa.


Relacionamentos exigem paciência, amor-próprio e aceitação. É preciso reconhecer nossos erros, enfrentar nossas sombras e valorizar nossas qualidades. Mas não fomos ensinados a nos conhecer ou compreender nossas limitações emocionais. Crescemos seguindo um roteiro pré-estabelecido: estudar, trabalhar, formar uma família, ganhar dinheiro, aposentar-se e morrer.


Com o tempo, percebi que essa crença é limitante. Para mim, céu e inferno não são apenas destinos após a morte – são estados de consciência vividos no presente. Não dependem do que temos, mas de como somos e nos relacionamos com a vida.


Esse estado de consciência exige autoanálise e disposição para mudar. É preciso coragem para quebrar crenças limitantes e revisar verdades que carregamos por tanto tempo.

Todos enfrentamos momentos difíceis. Sentir-se desanimado, insatisfeito ou sozinho faz parte da experiência humana. Mas é nesses momentos de desconforto que nos abrimos para a cura e o autoconhecimento.


A mudança não exige abandonar tudo, mas sim transformar nossa percepção. E, aos poucos, ajustamos o que é necessário, não apenas no exterior, mas principalmente no interior.


Ao refletir sobre o cultivo do pêssego, percebo que esse aprendizado começou há anos, quando decidi buscar ajuda e me conhecer melhor. Foi um processo de acolhimento e perdão, que priorizou meu mundo interno e trouxe reflexos positivos para minhas relações externas.


Sei que ainda tenho muito a aprender e que cometerei erros. Mas meu objetivo não é alcançar a perfeição, e sim estar aberta a compreender as mudanças da vida e confiar nos ciclos que a natureza me ensina: plantar, semear e colher.

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